Divino poema erótico de Drummond de Andrade

Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo
de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me
fizeste ontem.


A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando,
sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no
meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença,
aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos
lugares. Eu adormeci.


Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em
meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do  que entre nós ocorreu durante
a noite.


Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando
chegares, quero te agarrar com avidez e  força. Quero te apertar com todas as
forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do teu
corpo.


Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta!